“Ninguém pode ficar para trás”; Avaliando as altas taxas de jovens desempregados e presos em Cabo Verde

Por Gilda Christina Rodrigues

Esta postagem é baseada
na pesquisa realizada para o curso 'Economia, Geografia e Sociedade na África'.
Para essa investigação, inspirei-me numa reportagem, veiculada na RTC, rádio
telivisão Cabo Verdeana) sobre como as prisões cabo-verdianas estão
superpovoadas, principalmente com os jovens, e se estão a considerar soluções
como a pulseira eléctrica, enquanto eu perguntou-me se o desemprego não estava
na raiz deste problema? Isso levou à minha pesquisa, na qual avalio os dados de
desemprego e as taxas de prisão, e especialmente o desemprego dos jovens, no
entanto incluindo o domínio de política definido por Reinders et. al, que
discute o emprego produtivo. Portanto, desemprego pode ser um buraco em queda
para os elaboradores de políticas, como ser que eles se concentrem apenas em
como criar empregos, desconsiderando se o emprego produtivo, isto se refere a
um salário justo, seguro, etc.

Desemprego e população, carcerária

Observando os dados da
população carcerária de Cabo Verde, verifica-se uma linha crescente ao longo
dos anos. Um estudo detalhado do gabinete de estatísticas cabo-verdiano revela
que a população carcerária é maioritariamente masculina, apenas 46 mulheres
foram contadas dos 1500 reclusos em 2018, e relativamente jovem, 49,6% têm
menos de 29 anos (ver figura 1)

Figura 1; Idade de populaçao carcerária, fonte INE

O que surprende é que quase
75 por cento estava empregados antes de ir para a prisão. O estudo afirmou que
apenas 11 por cento dos presos revelaram que seu motivo para cometer um crime
foi a causa de razões financeiras, no entanto, 35 por cento revelaram que foi
devido ao abuso de drogas e álcool, e 12 por cento por causa da família, os
dois últimos motivos eu também refere a questões financeiras, conquante o
estudo não mencione isso, muitos procuram refúgio nas drogas, mas nomeadamente
no álcool por razões financeiras. Além disso, o tipo de crimes cometidos leva ao
problema do desemprego juvenil, considerando que mais jovens cometem crimes
contra a propriedade, da faixa etária 16-21, 72% está na prisão devido a crimes
contra a propriedade, faixa etária para 22-24, 65%, idade 25-29 49,4% (ver
figura 2), e essa tipo de crime diminui quanto maior for a idade, isto do total
de 34 por cento que está preso por este tipo de crimes. Esses números levantam
questões sobre a produtividade do emprego, considerando que uma alta taxa de
população carcerária era empregada antes de ir para prisão; no entanto, os
motivos do crime e os tipos de crimes cometidos podem sugerir que, se houver
emprego, ele pode faltar, mais sempre tambem o desemprego em primeiro lugar
ainda pode ser um problema.

Figura 2; Tipo de crimes coemtidos por até a idade 29, fonte INE

Este último eu declaro por que os jovens se
encontram na prisão nomeadamente por crimes contra a propriedade, e o emprego
jovem continua a ser elevado no arquipélago insular, ver figura 2. Em
comparação com a linha de desemprego geral, que por si só é elevada,
verifica-se que o desemprego juvenil é ainda maior do que a média nacional.

Desemprego dos jovens; A resposta do governo

Figure 3; Youth unemployment in Cape Verde source; World bank

Considerando o desemprego
e o desemprego dos jovens, governo cabo-verdiano ja estar a discutir estas duas
necessidades sociais ha muito tempo. Nidje afirma que na África a governança
influi o desemprego juvenil, por meio de fatores como corrupção, políticas
econômicas boas e estabilidade política, por isso as iniciativas do governo
devem ser consideradas ao tempo de pesquisar o desemprego. Em 2009 foi introduzida
uma política estratégica para a juventude, que pretendia ser implementada entre
2012 e 2016, mas foi adiado até 2020. Além disso, um dos últimos planos é para
transformar Cabo Verde num hub digital. O plano deste hub digital menciona que
a criação de emprego jovem. Além disso, no site do governo cabo-verdiano
encontram-se várias publicações sobre o desemprego juvenil, “Ninguem pode ficar
Para tras”, era o lema do governo até 2019, discutindo a criação de emprego nomeadamente
a integração dos jovens na Economia cabo-verdiana e mercado de trabalho.

Figura 4; Mapa do potencial hub digital, fonte EDCV

O que os jovens está dizendo

Para avaliar a realidade
dos jovens cabo verdianos, os métodos qualitativos são considerados, primeiro
através da avaliação de pesquisas qualitativas realizadas anteriormente e
segundo pela análise das letras de hip-hop cabo-verdiano feitas por jovens.
Zoettl explica como a maioria dos jovens se envolve em gangues, gangues
começaram a aparecer nas duas maiores cidades da Praia e Mindelo, entre 2003 e
2014, Praia com 90, e Mindelo 12 gangues. O surgimento dessas gangues foi
atribuído a vários fatores, como desemprego e problemas familiares, etc. No
entanto, culpar as famílias disfuncionais é apenas uma medida do governo para
colocar a culpa em outro lugar, em vez de enfrentar o desemprego juvenil e uma
educação adequada como um dos principais fatores. Para este post tentei mapear
as gangues que existem no Mindelo com a ajuda de um primo e consegui mapear 10
das gangues, para visualizar como isso se situa numa pequena cidade como
Mindelo.

Figura 5; mapeando as gangues de Mindelo, fonte autora

Finalmente, Zoettl
destaca que, para muitos, a experiência da prisão é vivida como um “intervalo”
da vida instável de gangue e da posição marginalizada na sociedade,
considerando que muitas vezes eles são deixados de fora do crescimento
acelerado de Cabo Verde. Esta posição marginal que é descrevido é ​​um estado
de exclusão permanente, e as possibilidades de melhoria de vida são mínimas,
morando nas periferias do Mindelo e da Praia. Uma sociedade que está mudando e
se modernizando rapidamente pode levar uma parte da sociedade a um certo risco
e incerteza, desde meados do século XX o emprego desenvolver a ser menos
seguro, mas também os empregos em si são inseguro e levam, portanto, à exclusão
social.

Figura 6: Fragmento do "Tra mon d'nha bols como traduçao ingles

Para além do artigo de
Zoettl, também algumas letras de rappers do Mindelo foram analisadas, para dar
mais dimensão à visão dos jovens sobre a sua posição na sociedade
cabo-verdiana, estes jovens não estão necessariamente envolvidos com questões
relacionadas com gangues. Porém, ao ler e ouvir estes textos, pode-se perceber
que os jovens estão cientes das problemáticas laborais que o país enfrenta,
visto que são eles os mais afetados por isso (Escura realidade). Também
expressam a sua frustração pelo facto de as oportunidades que o governo está a
criar ficar guardadas num determinado círculo íntimo, ou mesmo apenas na
capital (Hora d’Mudança). Além disso, sobre o emprego produtivo outra canção
“Tra mon d'nha bols”, ou tire as mãos do meu bolso, onde expressam como seu
salário é muito baixo, e falta de seguro, férias e se ha leis os efeitos não
são visíveis no seu dia-a-dia, estas elementos podem ser ligados ao emprego
produtivo como parte do desenvolvimento inclusivo, embora o PIB do país cresça,
a falta de emprego continua a ser um problema, aliás, a falta de emprego
produtivo. Existem muitas canções de hip-hop cabo-verdiano dos anos 90 que se
pode encontrar e que falam do desemprego dos jovens ou do desemprego em geral,
ver em baixo.

Considerações finais

Concluir sobre este
tópico não é uma conclusão, mas sim um ponto de entrada, primeiro para
revisitar a maneira como alguém pode considerar este jovem preso na prisão ou
dentro de uma vida de gangue, como um jovem que precisa de um governo para
incluí-los ao invés de considerar-lhes como uma ameaça à sociedade. Esta
afirmação é desencadeada pela forma como no RTC fui discutido que eles querem
resolver os problemas das prisões superpovoadas, com pulseiras eletrônicas, ao
invés de atacar a raiz do problema e ver o que motivou a maioria dos jovens a
se juntar a essas gangues, ou à comiter uma crime contra propriedade. Para
aprofundar este aspecto tenho de referir que o problema da violência foi
diminuído no Mindelo, visto que foram implementados “ninjas”, ou polícias
especiais que se disfarçam de cidadãos e tratam os criminosos com violência no
local. Porém, esta foi uma solução para o problema da violência, não resolve o
problema desses jovens marginalizados, nem encontra uma forma de incluí-los na
sociedade

Em segundo lugar, a
avaliação das políticas e debates existentes por parte do governo mostra que
este é um tema urgente para eles. No entanto, ainda há questões levantadas
sobre como eles estão dividindo essas poucas opções que estão criando, e o
questão que eu adoraria levantar é se eles estão se concentrando nos setores
apropriados. Analisando o PIB de Cabo Verde, verifica-se que a agricultura é o
sector como o mais menor dimensão, 8,9% do PIB total, mas até 2018 40% da
população vivia em áreas rurais, investindo assim na produção agrícola,
revisitando ou reinventando os sistemas de irrigação, desde a chuva não pode
ser o principal fator a motivar a baixa produção do setor. O turismo vem
crescendo muito nos últimos anos, desconsiderando o período COVID-19, porém,
isso só cria empregos em algumas ilhas, cria uma nova dependência do Ocidente,
e muitas vezes ainda carece da consumação dos produtos locais. O hub digital
pode criar boas novas opções e diversificação, no entanto, o emprego produtivo
deve ser sempre alcançado, bem como uma divisão justa das oportunidades de
emprego em todas as ilhas.

Finalmente, por que abro
essa conclusão com este post sendo um ponto de entrada? Existem muitas
oportunidades a serem desenvolvidas e exploradas dentro das ilhas, no entanto,
ao criar oportunidades para melhorar a economia da ilha, a criação de empregos
em uma questão produtiva e incluindo a juventude deve ser uma prioridade número
um. No entanto, isso precisa de mais pesquisas e elaboração de políticas, ao
fazer essas duas, as vozes desses jovens em canções informais devem ser
incorporadas ao projetar esses planos para que eles criam algo que se adapta às
necessidades da sociedade cabo-verdiana.

"Pa um Cabo Verde mdjor."

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